terça-feira, 10 de agosto de 2010

O fim dos livreiros


A proliferação dos novos aparelhos para leitura de livros digitais (e-books) é tal que não passa um dia em que os Blogtailors (coitados, já devem estar desorientados...) não tenham de anunciar um aparelho novo, maravilhoso, extraordinário, mais leve e com maior capacidade que os anteriores. O sucesso parece garantido. A partir de agora são muitos os que vaticinam o fim do livro tradicional e, consequentemente, o fim dos livreiros e das livrarias. O raciocínio é simples: basta transferir para o mercado dos livros o que aconteceu no mercado dos discos. Se a linha de pensamento for assim tão linear, eu iria ainda mais longe e acrescentaria o fim de muitas gráficas, distribuidoras, editoras e, por fim, de muitos autores. A pirataria vai ser tal e os direitos de autor tão completamente vandalizados, que os escritores (aqueles que vivem apenas da escrita), à semelhança dos músicos, terão de passar a fazer espectáculos ao vivo. Só assim poderão garantir a sua sobrevivência. É claro que, consequentemente, os editores passarão a ser os seus agentes culturais (se é que já não o são frequentemente). Com este cenário tão dramático, não me resta outra alternativa senão começar a pensar num novo emprego. Como já trabalho nos livros há muitos anos, não é fácil imaginar-me a fazer outra coisa. Não posso desesperar: afinal de contas, muitos outros antes de mim, por uma razão ou outra, tiveram que mudar de profissão, acabando por ser bem-sucedidos. Só tenho de escolher entre vir a ser, por exemplo, ditador ou economista (duas profissões muito bem vistas nos dias que correm).
Eis ai uma lista de nomes de pessoas que, em tempos, foram nossos colegas de profissão:
George Orwell – de livreiro a guerrilheiro.
Mao Tsé Tung – de bibliotecário a ditador.
Casanova – de bibliotecário a Don Juan.
Achille Ratti – de livreiro a Papa Pio XI.
David Hume – de livreiro a filósofo empírico iluminado.
William Blake – de livreiro a artista pobre mas sem dívidas.
Marcel Duchamp – de bibliotecário boémio francês a artista americano ainda mais boémio.
Archibald Macleish - de bibliotecário a três vezes prémio Pulitzer.
Texto extraido do "Pó dos Livros"


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2 comentários:

  1. Chacrinha é um Prazer participar do teu blog nesses seus súditos de inteligência, creio que esses tais livros eletrônicos não passarão de mais um aparelhinho no fundo da gaveta.
    André Gambarra.

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  2. Em breve, certamente, a Nova Roma vai nos ofertar os novos livros (e-reader). Mais uma opção para seus clientes e leitores.
    Abraços, ao infatigável Chacrinha, que não perdoa os pedantes e insossos. Ao contrário, oferece a outra face.

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